Eleito sem maioria
By Gustavo Noronha
Desde ontem várias pessoas insatisfeitas com os resultados eleitorais em suas cidades reclamam de os candidatos eleitos não terem recebido a maioria dos votos. Citam o número de pessoas que votaram nulo, branco ou sequer foram votar e dão a entender que não foi uma maioria que elegeu o candidato vencedor, o que seria um problema.
Eu até concordo com Leandra Leal sobre quem deveria ter ganhado no Rio. Meu voto seria em Freixo com certeza. Mas quanto à eleição não ter sido por escolha de maioria… será que isso é mesmo um problema? E, se for, qual a solução?
É interessante notar que essas mesmas pessoas em geral não se preocupam com esse detalhe quando os candidatos que preferem ganham. Muito antes pelo contrário: chamam constantemente atenção para o fato de terem sido eleitos pelo povo!
Vejamos o caso de Dilma, que os contrários ao impeachment repetiam à exaustão ser depositária de 54 milhões de votos: o número total de votos dados naquela eleição foi, segundo o TSE, 112,6 milhões. Desses, Dilma recebeu 54,5 milhões. Subtraindo estes dos 112,6 temos 58 milhões de pessoas que votaram no segundo turno mas não escolheram Dilma! A maioria.
Mas calma que ainda tem mais: segundo o TSE, o número de pessoas que não foi votar alcançou a cifra de 30,1 milhões. Em outras palavras: enquanto Dilma teve 54 milhões de votos, o número de pessoas que não votou Dilma alcançou mais de 80 milhões. Dilma foi eleita com meros 38% dos votos. 62% dos brasileiros aptos a votar, quase dois terços do eleitorado, não a escolheram.
Se isso for um problema, foi também um problema na eleição de Dilma. Reclamar quando o candidato preferido perde ao mesmo tempo em que sublinha Dilma ter sido eleita como se fosse um ato quase sagrado não dá.