Entendendo o PIB
By Gustavo Noronha
O PIB é o Produto Interno Bruto. É uma medida de tudo que se produz e se consome no país. As variáveis que são somadas para obter o tamanho do PIB são: consumo privado, consumo do governo, investimento e a diferença entre exportações e importações.
Quando olhamos quanto o tamanho do PIB mudou de um ano por outro, temos que levar em consideração o problema dos números absolutos, de que eu tratei num outro texto. Pensa comigo: se eu compro 10 refrigerantes em 2013 e os mesmos 10 em 2014, o consumo foi o mesmo. Mas em razão da inflação, os refrigerantes podem custar mais caro em 2014 e só isso já vai fazer o cálculo do PIB aumentar, já que é com os preços que se calcula o gasto do consumo. Esses números absolutos, sem nenhum tipo de correção, são chamados de nominais. O PIB sem correção é chamado de PIB nominal e o crescimento de um ano para o outro é chamado de crescimento nominal.
Como resolver o problema dos números absolutos? Para levar em consideração a mudança dos preços, escolhe-se um ano base para o cálculo e se aplica a taxa de inflação entre esse ano e o ano cujo PIB se quer calcular. Por exemplo, podemos pegar o valor do dinheiro de 2009 e calcular quanto de inflação houve de 2009 a 2014, aplicamos essa inflação para reduzir o PIB nominal de 2014 e pronto: temos o chamado PIB real. Quando a gente sabe qual é o PIB real, com base no valor do dinheiro para um determinado ano, podemos calcular quanto de crescimento real do PIB houve entre os anos.
Um outro conceito que ouvimos menos é o de crescimento potencial do PIB. Eu ouvi isso várias vezes na imprensa e achava que se referia a uma previsão feita pelos economistas. Mas não, acontece que esse é um conceito da economia que indica o crescimento saudável. O crescimento potencial é determinado pela quantidade de investimento: muito investimento gera grande capacidade de crescer sem que esse crescimento cause problemas para o país.
Que tipo de problema? O principal efeito de crescer acima do crescimento potencial é geração de inflação. Faz sentido? Se houve crescimento grande sem um nível adequado de crescimento do investimento, isso significa que consumo privado e do governo ficaram com um naco maior do PIB. Crescimento do consumo muito acima do que o investimento preparou o país para ter causa uma pressão da demanda sem que haja contra-partida do lado da oferta, fazendo com que os preços aumentem.
Olhando para a situação atual do Brasil, esse tipo de análise é preocupante: se nós temos crescimento próximo de zero e inflação acima do teto da meta, é provável que nosso crescimento potencial esteja muito baixo, talvez até negativo, indicando que o investimento está insuficiente. E olha só: de fato o investimento caiu de forma significativa nos últimos anos: de 18,9% em 2010 a 16,5% em 2014. Será que o segundo governo Dilma vai conseguir reverter essa tendência?