A escolha dos caças suecos
By Gustavo Noronha
Um comentário (de alguém que aprofundou muitíssimo pouco na questão e confessa) sobre a escolha dos caças suecos pelo Governo Federal: vi muita gente batendo, especialmente gente que faz oposição ao governo atual (entre as quais me incluo) falando que depois de tanto tempo o governo fez a pior escolha.
Eu discordo e acho que na verdade acabou foi fazendo a melhor escolha mesmo. Me explico: os franceses eram os mais caros e pelo que li seriam assim não só no contrato inicial de compra, mas em todo o processo produtivo e de manutenção. No entanto, eu ficava do lado deles quando a decisão era entre franceses ou estadunidenses por um motivo muito simples: os estadunidenses não topam fazer transferência completa de tecnologia – em especial, eles não estavam dispostos a transferir todo o código fonte dos sistemas dos caças.
Agora você imagina: sem os códigos fonte nós não só não teríamos como consertar e modificar os caças completamente, como não teríamos nunca certeza de se os caças estão enviando informações de telemetria pro pentágono ou se poderiam até mesmo receber comandos dos EUA remotamente. Quando nós defensores do Software Livre levantávamos essa questão no passado, a alguns parecia teoria da conspiração. Afinal de contas, um aliado nunca faria uma coisa dessas, certo? Se a crise de espionagem não foi suficiente pra abrir os olhos dessas pessoas, não sei do que vai precisar. Se nós não temos todos os códigos fontes dos caças eles não são só assets, são liabilities. E das grandes. Simples assim.
Aí veio a decisão pelos caças suecos – aparentemente em razão da crise de espionagem, dizem; Snowden nos salvando mais uma vez da falta de noção e falta de pé no chão! Os caças suecos serão completamente fabricados no Brasil, com transferência tecnológica completa e sairão mais baratos que os dos EUA e os da França. Quem me conhece sabe que eu não sou desses que acha que tem que ter indústria brasileira protegida, garantia de conteúdo nacional, muito menos sou ufanista. Mas acredito que em questões de defesa isso pode fazer a diferença.
Uma coisa que tem sido levantada como ponto fraco dos caças suecos é que eles são ainda protótipos e nunca estiveram em combate; isso significa que o desempenho deles não foi ainda testado e que levará mais tempo ainda para que eles sejam colocados em uso de fato. Nós já estamos usando a gambiarra da gambiarra da gambiarra, então isso é um problema grave.
Até hoje a questão de nunca terem sido testados em combate me parecia importante – apesar de não ser suficiente pra me demover da questão da transferência tecnológica que pra mim é ponto fundamental, inegociável. Mas a Andrea Ferraz, com quem tenho um amigo comum, numa discussão no facebook, fez o seguinte comentário:
… Quanto ao fato de o caça não ter sido testado em guerras, isso não é problema, mas sim, uma vantagem para a Fab, pois estaremos envolvidos em decisões chave do projeto e poderemos incluir nessa etapa nossas necessidades.
Não tinha pensado por esse lado, mas faz sentido. Se nós nos envolvermos no processo e levarmos a sério poderemos, além de absorver tecnologia, usar nossa experiência com os caças atuais e o patrulhamento das nossas fronteiras e defesa do nosso espaço aéreo pra tornar os caças ainda mais customizados para nossas necessidades.
Levando tudo isso em consideração, do meu ponto de vista não tinha escolha melhor.