Resenha: O Engajamento do Brasil nas Operações de Paz da ONU
By Gustavo Noronha
Demorei, mas acabei hoje de ler O engajamento do Brasil nas Operações de paz da ONU, livro do amigo (e desde ontem Doutor, meus pára-choques!) Lucas Rezende. O propósito central do livro é descrever e analisar o real engajamento do Brasil nas operações de paz da ONU através de analise comparativa proporcional de envio de efetivo (especificamente militar – tanto tropas quanto observadores – e policial, no caso).
Foi uma leitura muito interessante pra mim que sou noob completo no assunto porque ao preparar o terreno pra o propósito principal, o Lucas faz uma descrição e revisão bibliográfica da própria formação da ONU e dos debates sobre quais deveriam ser os mandatos da Organização, em particular do seu Conselho de Segurança e das suas operações de paz.
Faz uma descrição muito interessante das mudanças que ocorreram a esse respeito, com a crescente preponderância das operações intra-estatais e da aceitação de operações de imposição de paz, opostas às de manutenção da paz após o declínio soviético.
Pra colocar o Brasil na salada, começa por uma descrição da evolução da política externa brasileira, seu foco e modus operandi desde tempos pré-ONU até a atualidade. Em particular achei muito interessante a posição constante do Brasil contra as operações de imposição de paz.
Mas aí chegamos no filé mignon do livro: a análise que nos mostra que, apesar de o Brasil ter aumentado sua participação em organizações multi-laterais e apesar da demanda pelo assento no Conselho de Segurança, o Brasil ainda é muito aquele tipo de participante que diz “nós devíamos fazer X” quando na verdade está dizendo “vocês deviam fazer X” – mesmo com número razoável de participações em operações de paz, o Brasil participa quase sempre com número ínfimo de tropas e policiais. Quando há uma maior participação, no geral, é com observadores (militares, o livro não tem dados de civis).
A principal exceção à regra é a operação de paz em que o Brasil ainda está envolvido até hoje e que comanda – a MINUSTAH, do Haiti, mas mesmo nela o Brasil não chega a ter uma liderança firme em termos de contribuições proporcionais, sendo equiparado por Jordânia e Nepal.
É possível que isso signifique uma mudança de postura, o futuro dirá; infelizmente o livro acaba a análise das dados no ano de 2009, mas já propõe que seria interessante uma análise do impacto que o terremoto de 2010 no Haiti teve no engajamento brasileiro e eu já adiciono aqui uma segunda: o impacto da imigração de haitianos que tem entrado ilegalmente no Brasil desde então.
Pra terminar, a única crítica/sugestão que me veio em mente: os gráficos seriam provavelmente mais fáceis de ler se estivessem em formato de barras empilhadas, como o desse exemplo.
No mais, leitura recomendada pra todo mundo que se interessa por política, relações internacionais, política externa, ONU, guerra e paz!