Quem sou eu e o que penso
By Gustavo Noronha
Uma breve história minha e da minha família imediata
Para entender um discurso é importante saber de onde parte o discursante – em outras palavras, quais são suas origens, suas experiências e influências e em última análise suas premissas. Nesse post vou tentar dar uma visão geral desses fatores com relação a mim. Se quiser saber só das posições políticas, veja Minhas posições políticas, abaixo.
Minhas famílias são do Alto Paranaíba (por parte de mãe) e Itaguara (por parte de pai). Meu pai foi professor de biologia e médico psiquiatra e além de ter um consultório particular trabalhava também em hospitais públicos. Ele morreu cedo, com 30 e poucos, quando eu tinha 6 anos. Minha mãe foi professora de português e literatura principalmente em escolas públicas – municipais e estaduais, mas trabalhou em diversas áreas pra dar um jeito de sustentar e educar os dois filhos.
Nós nos mudamos pro sul de Minas quando eu estava com 3 anos porque meus pais acreditavam que lugar de criar filhos é no interior, onde eles podem andar pela cidade toda e brincar. A ideia era que quando eu fizesse 15 anos nós voltaríamos pra Belo Horizonte. Apesar do falecimento precoce do meu pai, minha mãe insistiu em ficar em Campo Belo, mesmo sem ter família perto, pra levar a cabo o plano dos dois.
No final de 1998 nós nos mudamos pra Belo Horizonte. Mais ou menos por essa época eu estava dando meus primeiros passos no Movimento do Software Livre, aprendendo a programar e conhecendo projetos como o Debian, em que eu ainda trabalho até hoje.
Minha irmã Laura fez Artes Cênicas na UFMG e depois disso foi pro Rio de Janeiro onde fez pós-graduações em dança e consciência corporal. Hoje ela trabalha com pilates e na companhia de dança Pulsar, lá mesmo no Rio de Janeiro.
Eu me interessei por política desde cedo. Nas eleições do começo da década de 90 eu morava em Campo Belo, uma cidade no sul de Minas. Eu me lembro de ficar muito curioso com as discuções da época, especialmente as que falavam da dívida externa e lembro de ficar pensando que de repente era uma boa dar uma chance pra a ideia de não pagar e ver o que dava. Coitada da minha mãe pra responder as perguntas do pimpolho. Eu passava sempre nos comitês eleitorais que ficavam no caminho da escola e adorava cantar ‘Lula lá’.
No plebiscito de 1993 eu fiquei de novo muito curioso com os debates. ‘Vote no rei’, quem lembra? Fiz inúmeros desenhos representando o que cada uma daquelas opções representava. Em um dos desenhos eu fiz o Presidente na sarjeta com o Primeiro Ministro em pose de poder. Na época eu escolhi meu lado do mesmo jeito que escolhi o meu time de futebol: perguntei minha mãe qual ela defendia: República Presidencialista. Hoje eu prefiria que fosse uma República Parlamentarista!
Nos governos FHC eu já estava na adolescência e comecei a ler mais e tentar entender melhor os debates. E em 2002, morando já em Belo Horizonte havia 4 anos, eu achava que conhecia o suficiente pra votar conscientemente: votei em Lula. Hoje, conhecendo mais sobre a política nacional, sobre quem são e o que pensam Lula e Serra e olhando pra trás, acredito que fiz bem!
Eu no Governo Federal
Em 2003 comecei o curso de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Montes Claros. Foi uma época muito boa, em que eu ampliei bastante minhas ideias e minhas leituras. Mas em meados de 2004, lendo as notícias que vinham de Brasília sobre a migração tecnológica do Governo Federal, eu cheguei à conclusão de que essa era uma das coisas que iam muito bem no governo e fiquei me perguntando se eu não devia estar lá ajudando isso a dar certo.
Então liguei pra pessoas que eu conhecia e que já haviam me falado que poderiam usar minha ajuda e acabei indo pra Brasília. Fui convidado pra ser Coordenador de Modernização e Informática no recém-criado Ministério das Cidades. Apesar de eu ter achado uma má ideia, dada minha inexperiência com gestão, recebi de pessoas de confiança muitos empurrõezinhos e acabei aceitando.
Se fosse hoje não teria aceitado, não acho que eu era o que o Ministério precisava – e assim que consertei o que eu achava que podia consertar fui-me embora e indiquei um cara que sabia o que estava fazendo como gerente pra me substituir. Até porque, a propaganda de que a migração ia bem acabou sendo só isso, propaganda. Mas foi uma experiência extremamente importante pra mim, para conhecer como funciona o governo federal por dentro, próximo do quarto escalão.
Trabalhei por um tempo na iniciativa privada, como desenvolvedor. Em 2006 voltei a Brasília, dessa vez para trabalhar como funcionário terceirizado no também razoavelmente recente Ministério do Desenvolvimento Social. Nesse caso eu estava numa posição em que eu me encaixo. Fiquei feliz com o trabalho que desempenhei, mas continuei me assustando com a forma absolutamente amadora com que algumas coisas são feitas.
Em 2008 voltei novamente para Belo Horizonte e comecei a trabalhar na empresa de um amigo como desenvolvedor web. De 2009 em diante comecei a prestar consultoria de desenvolvimento pra uma empresa inglesa, ajudando a fazer cosquinha pro lado de entrada da balança de serviços brasileira 😉
Minhas posições políticas
Esquerda ou direita?
Eu acho que a política e as políticas públicas são muito complexas para serem representadas em uma só dimensão. Dito isso, eu me considero de esquerda, no geral. Pra ficar um pouquinho mais claro, eu prefiro usar pelo menos uma escala bi-dimensional, tipo a usada no political compass. Nesse teste o meu resultado é o seguinte:
Apesar desse teste ser falho também, porque as perguntas e respostas são bem superficiais, eu acho que a posição do meu pontinho representa bem quem eu sou. Resumindo em palavras, acho que eu diria o seguinte: o Estado tem que se meter o mínimo possível na vida das pessoas, o livre mercado é um bom sistema em geral, mas a atuação do Estado (especialmente como regulador) é essencial para garantir o império do interesse público.
Exemplo concreto disso: leis relativas a religião e sexo geralmente não fazem sentido. Eu acho que o Estado não tem que especificar o que adultos podem ou não fazer de forma consensual entre quatro paredes. O Estado também não deveria se meter no que constitui família e nem criar leis que imponham à população crenças religiosas.
No entanto, eu também acho que o Estado tem sim que ter leis que garantam por exemplo a integridade de menores e para garantir que quem quiser crer no que quer que seja tenha esse direito. E até mesmo leis que obriguem os responsáveis por crianças a seguir um padrão mínimo de cuidados com a saúde e educação delas.
Uma discussão um pouco mais concreta: privatizações
Um dos assuntos que tem sido parte importante da agenda de discussão política recente e que promete esquentar no futuro próximo é o tema das privatizações. A minha visão sobre privatizações é que elas são uma política pública legítima e que pode ser a melhor opção em um número grande de situações.
A capacidade de investimento e gestão do Estado é limitada e por isso, obviamente, é necessária uma priorização, um foco. Assisti outro dia uma entrevista no Roda Viva, na TV Brasil, em que o entrevistado, arquiteto Paulo Mendes da Rocha expressou bem essa ideia, eu acho. Do meu ponto de vista, o foco do Estado como investidor e empresário deveria ser, nessa ordem: educação, saúde, segurança.
Eu acredito que a privatização do setor de telecomunicações e as privatizações em massa planejadas pelo governo Dilma para a infraestrutura foram e são necessárias. A escolha de não fazer esse investimento através do convite ao setor privado, considerando o fato de que o Estado tem orçamento limitado, é uma ou mais dessas três:
- O investimento necessário não é feito, tornando mais lento o desenvolvimento do país
- O endividamento público aumenta violentamente (como aconteceu sob JK e sob a ditadura militar)
- Áreas importantes ficam sub-financiadas ou sub-gerenciadas
Pensemos por exemplo sobre os aeroportos brasileiros. Há a possibilidade, claro, de melhorá-los através de investimento público. Mas há dinheiro pra isso? Há capacidade de gestão? De onde virá o dinheiro? Será necessário preterir investimentos no SUS para conseguir essa ampliação e melhoramento?
Eu acredito que aeroportos são estratégicos o suficiente para merecerem investimento imediato, mas não acho que o SUS deve ser preterido pra isso. Considerando que a presença do Estado nos aeroportos se dará de qualquer forma, tanto através da agência reguladora, quanto de órgãos como o procon, a polícia federal, os controladores de voo e outros eu não vejo nenhuma razão para não conceder esse investimento à iniciativa privada.
Eu não acho que o fato de se fazer privatizações define absolutamente a posição de um governo no espectro direita/esquerda e acho que tentativas de trazer a discussão pra essa questão geralmente são tentativas de banalizá-la, principalmente quando se usa termos como ‘entregar’. O único resultado desse tipo de discurso, do meu ponto de vista, é criar uma neblina em torno das questões de ordem prática e que são o que em última análise definem o resultado da política pública, o alcance ou não dos seus objetivos. Também não acredito em crença a respeito dos resultados: resultado e alcance de objetivos tem que ser constantemente medidos e revisados para até mesmo reverter uma decisão como essa, se se mostrar ineficaz.
Cenas dos próximos capítulos
Como eu disse no meu primeiro post, meu objetivo com esse blog é tentar trazer pra mesa temas que considero importantes para o debate nacional e que estão atualmente semi-ocultados pela neblina da banalização e da cegueira ideológica. Meus próximos posts tratarão de detalhar um pouco mais as posturas e retóricas que eu acredito que empobrecem o debate político e de políticas públicas. Em outros, darei minha opinião sobre políticas específicas do governo federal. Espero assim contribuir com o debate!